O azul do Windows rasga-se no monitor à minha frente, antes que o apontador comandado pelo rato seleccione o browser num click. E pronto! Lá vou eu Rua Diário de Notícias acima, passo estugado de regresso ao colégio.
Poucos metros à frente segue o JJ, ambas as mãos ocupadas. Na esquerda um best dos Shadows, na direita o primeiro fascículo do novíssimo dicionário “Who is who” acabado de levantar na Tália, num ritual que se irá repetir semanas a fio, enquanto o editor não tiver registado os traços mais marcantes desta época irrepetível.
A primeira aula é a do Dr Lopes e hoje ele vai-nos falar de algo tão surpreendente como o espaço multi-dimensional. Como é que se irá desenvencilhar de matéria tão hermética junto de uma tão tridimensional população? Porque será que temos tanta dificuldade em compreender que para além das dimensões físicas em que o nosso corpo diariamente se afirma podem existir outras igualmente reais?
Imaginem uma aranha que tece um fio e nele vive a totalidade da sua existência. Os seus movimentos resumem-se a percorrer as duas direcções num vaivém perpétuo em ambos os sentidos. Tal como a nós para além dos limites cartesianos, a ela está-lhe virtualmente vedado compreender que há mais espaço para conquistar.
Hei-de lembrar-me mais tarde, vezes sem conta, deste artifício pedagógico que continuará a excitar-me o espírito tal como hoje nesta aula estimulante. Podemos não ter resolvido integralmente o problema, mas as nossas mentes ficaram bem mais tranquilas e preparadas para o vendaval que se haverá de seguir na aula de Laboratório de Biologia da Drª Cristina.
Afinal não era preciso gritar! E nem nos parece de todo que o Branco merecesse falta de material. Com uma lâmina Nacet, um belíssimo canivete suiço, um saca-rolhas e uma tesoura de costura pode perfeitamente dissecar-se o pombo, analisar-se-lhe as entranhas e registar com detalhe as observações científicas recomendadas no exercício.
Afinal não era preciso gritar! E nem nos parece de todo que o Branco merecesse falta de material. Com uma lâmina Nacet, um belíssimo canivete suiço, um saca-rolhas e uma tesoura de costura pode perfeitamente dissecar-se o pombo, analisar-se-lhe as entranhas e registar com detalhe as observações científicas recomendadas no exercício.
Assim se lhe desse uma oportunidade de demonstrar a sapiência do povo quando diz que “quem não tem cão caça com gato”.
Dissimulámos os sorrisos, mas invejámos-lhe a coragem. O Branco foi mais cedo para intervalo e nós suportámos a destilação do humor da nossa circunspecta professora até ao toque misericordioso da campainha, evitando-nos a provação de assistirmos à decomposição dos cadáveres que jaziam nas bancadas.
JJ, está-me a apetecer ouvir esses Shadows na tua aparelhagem hipnótica da qual emanam superlativos sons que só se hão-de democratizar mais tarde. Vamos?
..................................................................................................
Sem comentários:
Enviar um comentário