ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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O PRIMEIRO ANO DO CICLO (1964/1965)

Recentes conversas com antigos colegas do ERO revelaram que temos diferentes recordações dos tempos que passámos juntos. Não falo de perspectivas ou análises, falo da recordação de acontecimentos concretos. Fico muitas vezes a tentar perceber porque é que durante a nossa infância e juventude determinados momentos e pessoas se cravam tão fundo na memória de uns enquanto na de outros parecem desvanecer-se sem deixar traço. E as conversas são: lembras-te deste ou daquele, de ter dito ou feito… e não, o outro lembra-se bem, mas de outros ditos e feitos ou de diferentes circunstâncias. Muitas vezes mas não sempre, já que há muitas memórias comuns que provocam sempre explosões de alegria cúmplice. Na sua maioria vagamente entre o iniciático, o escatológico e o criminal, essas não são habitualmente passíveis de ser contadas fora do círculo dos eleitos (claro que é um exagero mas nós gostamos de as recordar assim, boys will be boys…).


Tudo isto a propósito de uma época de que me lembro bem, a passagem da 4ª classe para o 1º ano do Ciclo, porque constituiu para mim um choque. Não tanto pela mudança de matérias, talvez só a introdução do Francês fosse algo de significativamente diferente, mas fundamentalmente pela sua divisão em aulas com professores diferentes. Esta nova compartimentação da aprendizagem incluía um enorme esforço de adaptação a oito matérias e oito professores com diferentes métodos de ensino, gestão disciplinar e até de relacionamento pessoal com os alunos. Não façam esse ar incrédulo, eram oito sim, recapitulem comigo: Língua e História Pátria, Francês, Ciências Geográfico-Naturais, Matemática, Desenho, Religião e Moral, Educação Física e Canto Coral. É óbvio que as três últimas não contavam para a famosa Média, pobres formações, física, moral e musical… mas aos dez anos todas eram aulas “novas” e todas eram encaradas com respeito e algum temor.


Penso que nesse primeiro ano de fraca diferenciação sexual as nossas queridas colegas ainda não tinham as misteriosas aulas de Lavores, que só começaram no 2º ou 3º Ano. Essa iniciação algo tardia no verdadeiro mister feminino e, suspeito (apenas suspeito, porque ausente), a pouca atenção dispensada a tão importante área pedagógica por alunas e professoras, viriam a contribuir decisivamente para as fracas prestações da maioria dessas jovens nesta área, como constatariam os seus futuros maridos.


E quão jovem e impressionável eu era! (Estou a referir-me novamente ao Ciclo, as lacunas da educação feminina e os seus efeitos perniciosos no casamento ficam para outra altura). Marcaram-me nesse ano todas as figura dos homens e mulheres que foram ocupando o palco que o estrado constituía. Lembro-me de ficar surpreendido com o Dr. Azevedo (Matemática), pareceu-me de repente mais sisudo, com uma voz mais forte e sincopada, muito diferente do homem que eu conhecia cá fora como Pai do Zé Luís; assustado pelo fanatismo e intolerância que pressenti sempre no Padre Albino; cativado pela seriedade e rigor usados pela Dra. Cândida mesmo ao dar aulas (Francês e Português) a miúdos tão pequenos; “desarmado”e encantado pelo Padre Renato (Canto Coral) de quem não sabia bem o que pensar, como se tivesse descoberto que, entre os professores, afinal havia gente como nós, com dificuldade de se integrar no Mundo; entusiasmado com o Dr. Lopes, que quase me convenceu que um dia eu poderia desenhar; desiludido pelo prof Silva Bastos, foi claro para mim e para ele, desde a primeira aula, que eu nunca seria um ginasta; e, pasmem como eu pasmo ainda hoje ao lembrar-me, claramente seduzido pela Dra. Cristina (Ciências), ela que iria assombrar os meus piores pesadelos durante os sete anos seguintes! A minha Mãe fez sempre questão de mo relembrar, irónica e cruelmente, vezes sem conta: “gostavas tanto dela…”. (Era loura, terá sido por isso, nessa altura não resistia à visão de uma loura. O Zéquinha ainda hoje é assim, escreveu-o nos seus comentários sobre o almoço de 17-11; a mim, já me passou).

Todo este conjunto de novas matérias, novos colegas e multiplicidade de professores gravou na minha memória imagens que nunca esqueci.

JJ
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Nota: As ilustrações são ambas de 1964: um grupo de amigos (todos alunos do ERO) nas traseiras da Igreja Matriz e um Caderno Diário de Moral.
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comentários:
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24 Dezembro, 2007
São Caixinha disse.
Reencontrei-me um pouco ,por entre linhas, na tua artigo sobre o primeiro ano do ciclo! É como ler uma história onde de súbito também sou personagem...!!! Dão-me muito prazer estas viagens ao passado perdido pelo tempo e pelo espaço!!! Obrigada João! Obrigada a todos!
FELIZ NATAL! São Caixinha

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