“ O Chico da Baía”
Francisco Cera nasceu em S. Martinho do Porto a 01/11/45. Neto de pescadores, filho de gente do Ribatejo, inicia a sua escolaridade num pequeno sótão na Rua Alexandre Herculano em Caldas da Rainha na casa da Professora Perpétua.
Passa depois pelas Escolas Primárias da Policia de Transito e Praça do Peixe. Mais tarde no Ensino Secundário vai para a Escola Rafael Bordalo Pinheiro, junto ao Chafariz das 5 Bicas. Teve ainda o privilegio de ir estrear o novo edifício que foi construído nos antigos terrenos da Escola Agrícola. Foi sempre um aluno interveniente. Passou pelas actividades da Mocidade Portuguesa tendo sido um entusiasta dos acampamentos. Só que não há bela sem senão. Um dia puseram-no a tocar tambor desde tornada até as Caldas. Fartou-se tanto que nunca mais voltou. Cedo se lhe desenvolve um especial gosto pela poesia, pela palavra, pelo dizer. Na idade propícia aos sonhos a poesia ganha a dimensão de uma deusa. Lê para si, para mais tarde lê-la em voz alta para quem o queira escutar. Nos saraus e récitas da Escola a sua presença é constante. Com os seus dizeres entoados, por vezes dramatizados, lê poesia de Florbela Espanca, Fernando Pessoa, António Gedeão, Casimiro de Abreu, Jorge de Lima, José Régio e tantos outros. A Toada de Portalegre, o Mostrengo, Cântico Negro, Hino do Meu Terceiro Dia, O Menino de Sua Mãe, Chico Cera dizia-os com tal ênfase que acabou grangeando adeptos fervorosos.
Da arte de dizer poesia ao teatro, foi um passo. Várias foram as peças representadas. Em espectáculos organizados pela Escola R. Bordalo Pinheiro, assim como pelo Conjunto Cénico Caldense, Francisco Cera participou com dedicação e entusiasmo. Foi aliás nas actividades circum-escolares, neste caso no teatro, que conheceu aquela que ainda hoje é a sua mulher.
Das peças representadas “Antigona”, “Autos de Gil Vicente”, contam-se como das mais importantes do seu curriculum. No entanto o “Auto da Compadecida” representado em Coimbra pelo C.C.C., ficou-lhe para sempre gravado na memória. Foi de tanta qualidade a representação, que o público no final vibrou dando vivas às Caldas, ao Teatro, arremessando ao ar capas negras de estudantes que esvoaçavam na sala do velho Avenida. Mas outros passos na vida o esperam. Ao sair da Escola, emprega-se na Repartição das Finanças nesta cidade. Faz a tropa, uma grande parte dela no R.I. 5. Quando sai vai trabalhar nas Páginas Amarelas e um pouco mais tarde para a Torralta.
Aos poucos foi deixando a sua actividade ligada ao teatro, entusiasmando-se cada vez mais com a festa brava. Depois das garraiadas escolares, participa numa primeira tentativa de formação do Grupo de Forcados Amadores das Caldas. Como não resulta, ingressa no Grupo da Nazaré. Toma então a decisão de aceitar maiores responsabilidades ao nível da festa dos toiros, entra no Grupo de Forcados Amadores de Santarém.
Dedicou também à Imprensa muito do seu tempo: Jornal da Escola, Gazeta das Caldas, Jornal da Unidade (Militar) e o desaparecido Notícias das Caldas. Talvez por isso mesmo a caricaturista não lhe tenha perdoado um seu desabafo menos a propósito, que proferiu numa Assembleia Municipal em 1990, quando a Gazeta das Caldas foi posta em causa pela sua bancada.
Com espírito de iniciativa trabalha com outros caldenses na criação dos certames “Feiras da Fruta e Cerâmica”.
Na sua juventude sofreu a influência dos “anos 60” . Os Beatles, Adamo, Moustaki, Brel, Zeca Afonso e tantos outros polvilharam-no com o sal e a pimenta quanto baste. Cedo se apercebeu da falta de liberdades democráticas do seu País. A Guerra Colonial, as prisões politicas, e a luta dos democratas não o deixaram indiferente. Participa nas eleições de 1969 e 1973, ao lado da oposição. Mesmo quando cumpria o serviço militar participava em iniciativas levadas a efeito no interior do próprio regimento.
Tem conhecimento dos acontecimentos do 25 de Abril pela rádio, eram 9:30h, estava na Praça da República. A primeira reacção foi de emoção. Com olhos marejados de lágrimas sentia que o filho que esperavam iria nascer num país livre.
Vive intensamente a época revolucionária. Apanhado pelos acontecimentos da Torralta não aceita convites que lhe tinham sido formulados por partidos políticos. Apoiante da segunda candidatura do General Ramalho Eanes reencontra Hermínio Martinho que há muito conhecia e aceita fazer parte da estrutura local do PRD. Candidata-se por este partido às Autárquicas de 1985. Sai passados meses. É ainda Mandatário Concelhio da candidatura de Salgado Zenha à Presidência da República, candidatura de que vem a discordar a meio da campanha. Em 1989 candidata-se como independente nas listas do PSD à Assembleia Municipal de Caldas da Rainha.
Nestes últimos anos tem vindo a dividir a sua actividade para além da politica, na direcção da sua empresa e numa teimosa participação em várias direcções do Caldas Sport Club.
Jorge Sobral
Francisco Cera nasceu em S. Martinho do Porto a 01/11/45. Neto de pescadores, filho de gente do Ribatejo, inicia a sua escolaridade num pequeno sótão na Rua Alexandre Herculano em Caldas da Rainha na casa da Professora Perpétua.
Passa depois pelas Escolas Primárias da Policia de Transito e Praça do Peixe. Mais tarde no Ensino Secundário vai para a Escola Rafael Bordalo Pinheiro, junto ao Chafariz das 5 Bicas. Teve ainda o privilegio de ir estrear o novo edifício que foi construído nos antigos terrenos da Escola Agrícola. Foi sempre um aluno interveniente. Passou pelas actividades da Mocidade Portuguesa tendo sido um entusiasta dos acampamentos. Só que não há bela sem senão. Um dia puseram-no a tocar tambor desde tornada até as Caldas. Fartou-se tanto que nunca mais voltou. Cedo se lhe desenvolve um especial gosto pela poesia, pela palavra, pelo dizer. Na idade propícia aos sonhos a poesia ganha a dimensão de uma deusa. Lê para si, para mais tarde lê-la em voz alta para quem o queira escutar. Nos saraus e récitas da Escola a sua presença é constante. Com os seus dizeres entoados, por vezes dramatizados, lê poesia de Florbela Espanca, Fernando Pessoa, António Gedeão, Casimiro de Abreu, Jorge de Lima, José Régio e tantos outros. A Toada de Portalegre, o Mostrengo, Cântico Negro, Hino do Meu Terceiro Dia, O Menino de Sua Mãe, Chico Cera dizia-os com tal ênfase que acabou grangeando adeptos fervorosos.
Da arte de dizer poesia ao teatro, foi um passo. Várias foram as peças representadas. Em espectáculos organizados pela Escola R. Bordalo Pinheiro, assim como pelo Conjunto Cénico Caldense, Francisco Cera participou com dedicação e entusiasmo. Foi aliás nas actividades circum-escolares, neste caso no teatro, que conheceu aquela que ainda hoje é a sua mulher.
Das peças representadas “Antigona”, “Autos de Gil Vicente”, contam-se como das mais importantes do seu curriculum. No entanto o “Auto da Compadecida” representado em Coimbra pelo C.C.C., ficou-lhe para sempre gravado na memória. Foi de tanta qualidade a representação, que o público no final vibrou dando vivas às Caldas, ao Teatro, arremessando ao ar capas negras de estudantes que esvoaçavam na sala do velho Avenida. Mas outros passos na vida o esperam. Ao sair da Escola, emprega-se na Repartição das Finanças nesta cidade. Faz a tropa, uma grande parte dela no R.I. 5. Quando sai vai trabalhar nas Páginas Amarelas e um pouco mais tarde para a Torralta.
Aos poucos foi deixando a sua actividade ligada ao teatro, entusiasmando-se cada vez mais com a festa brava. Depois das garraiadas escolares, participa numa primeira tentativa de formação do Grupo de Forcados Amadores das Caldas. Como não resulta, ingressa no Grupo da Nazaré. Toma então a decisão de aceitar maiores responsabilidades ao nível da festa dos toiros, entra no Grupo de Forcados Amadores de Santarém.
Dedicou também à Imprensa muito do seu tempo: Jornal da Escola, Gazeta das Caldas, Jornal da Unidade (Militar) e o desaparecido Notícias das Caldas. Talvez por isso mesmo a caricaturista não lhe tenha perdoado um seu desabafo menos a propósito, que proferiu numa Assembleia Municipal em 1990, quando a Gazeta das Caldas foi posta em causa pela sua bancada.
Com espírito de iniciativa trabalha com outros caldenses na criação dos certames “Feiras da Fruta e Cerâmica”.
Na sua juventude sofreu a influência dos “anos 60” . Os Beatles, Adamo, Moustaki, Brel, Zeca Afonso e tantos outros polvilharam-no com o sal e a pimenta quanto baste. Cedo se apercebeu da falta de liberdades democráticas do seu País. A Guerra Colonial, as prisões politicas, e a luta dos democratas não o deixaram indiferente. Participa nas eleições de 1969 e 1973, ao lado da oposição. Mesmo quando cumpria o serviço militar participava em iniciativas levadas a efeito no interior do próprio regimento.
Tem conhecimento dos acontecimentos do 25 de Abril pela rádio, eram 9:30h, estava na Praça da República. A primeira reacção foi de emoção. Com olhos marejados de lágrimas sentia que o filho que esperavam iria nascer num país livre.
Vive intensamente a época revolucionária. Apanhado pelos acontecimentos da Torralta não aceita convites que lhe tinham sido formulados por partidos políticos. Apoiante da segunda candidatura do General Ramalho Eanes reencontra Hermínio Martinho que há muito conhecia e aceita fazer parte da estrutura local do PRD. Candidata-se por este partido às Autárquicas de 1985. Sai passados meses. É ainda Mandatário Concelhio da candidatura de Salgado Zenha à Presidência da República, candidatura de que vem a discordar a meio da campanha. Em 1989 candidata-se como independente nas listas do PSD à Assembleia Municipal de Caldas da Rainha.
Nestes últimos anos tem vindo a dividir a sua actividade para além da politica, na direcção da sua empresa e numa teimosa participação em várias direcções do Caldas Sport Club.
Jorge Sobral
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A caricatura é de Vasco Trancoso e o texto de Jorge Sobral.
Foram originalmente publicados no "Álbum de Figuras Caldenses 1990/1991"
e são aqui reproduzidos com a devida autorização do autor.
Foram originalmente publicados no "Álbum de Figuras Caldenses 1990/1991"
e são aqui reproduzidos com a devida autorização do autor.
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COMENTÁRIOS
2008-03-29
Higino Rebelo disse:
Sobre a passagem do "Chico Cera" pela instituiçao militar posso testemunhar que ele também esteve na Póvoa do Varzim uma vez que estando eu, nos primeiros 5 meses de 1968, no RI6, ele dáva-me boleia até ao Porto, a mim ao Alberto Campos e a um amigo que não lembro o nome mas que os pais tinham uma lavandaria na rua Henrique Sales e creio que o Sena também viajava comnosco pois ele estava no mesmo regimento que eu.Higino Rebelo
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2008-04-02
Higino disse :
Já me lembrei! O outro amigo que também estudava no Porto chama-se Vasconcelos e há muito que não sei nada dele. Quanto ao Alberto Campos nunca esquecerei que era ele que, no meio estudantil do Porto, me arranjava tudo o que era clandestino desde Manuel Alegre a Zeca Afonso.
Já me lembrei! O outro amigo que também estudava no Porto chama-se Vasconcelos e há muito que não sei nada dele. Quanto ao Alberto Campos nunca esquecerei que era ele que, no meio estudantil do Porto, me arranjava tudo o que era clandestino desde Manuel Alegre a Zeca Afonso.
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2008-04-09
Sanches disse:
A Pastelaria Baía, quando foi comprada pelo pai do Chico Cera, passou a denominar-se "O Rei das Cavacas".Por isso ainda hoje trato o Chico, carinhosamente, pelo cognome de "O Príncipe das Cavacas". Sanches
1 comentário:
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