ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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Os Locais da Lena Arroz




Resposta ao inquérito – pontos de encontro















Em baixo: Lena V.Pereira, Ana Vieira Lino, Ema Botelho
No meio: Efigénia,Emiliana, Ana Mº Frazão
Em cima: Lena Arroz, Alzira, Ilda Lourenço
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João Jales:

Onde é que estavas no dia 15 de Maio de 1965 depois de almoço? Era Sábado, estava uma tarde de Sol esplêndida … A estudar? Não acredito, num dia tão bonito, tu eras tão boa aluna, não é possível que não pudesses dispensar duas horas para te encontrares com alguns colegas, ir ao Parque, lanchar numa esplanada, visitar alguém que tinha um jardim agradável ...


Lena Arroz:

A 15 de Maio de 1965 saí de maca do Montepio a caminho de casa, onze dias depois de um trambolhão de mota.

4 de Maio. Descíamos a ladeira devagarinho para prolongarmos aquela única e preciosa hipótese de contacto com os rapazes. A ladeira não tinha carros praticamente nenhuns e por isso nós ocupávamos a estrada toda. Um magote de rapazes de um lado e um magote de raparigas do outro. Havia uns “pombos correio” que iam de um magote ao outro, com bilhetinhos dirigidos, ou recados, ou “piadas” com origem num dos lados, para provocar o outro.

Às vezes os rapazes punham-se atrás de nós, bem perto, para que pudéssemos ouvir o que diziam. Eles “gozavam” com as nossas pernas, que, bem entendido, mal se viam. Começavam a ver-se após o cano da bota e a vista terminava logo pela curva da perna, quando começava a nossa bata às risquinhas. Ainda não se usavam calças e a maioria das raparigas já usava meias de vidro. Eu, como era um ano mais nova do que as minhas colegas, usava “soquettes”, com grande pena e alguma “vergonha” minha.


As graçolas eram do género, “perna boa”, “perninha de canivete” e coisitas assim, inofensivas, mas muito estimulantes...

O Zé Manel tinha um velo solex. Uma espécie de bicicleta com um pequeno motor. Ele era um dos que ia e vinha trazendo recadinhos. Uma vez pedi-lha emprestada para dar por ali umas voltinhas. Com tanto azar, nesse dia trazia uma saia travada que ia até ao joelho. Não dava jeito nenhum para andar de mota... a não ser que se puxasse muito para cima e assim podia ver-se mais alguma coisa, o que seria uma vergonha.

Por isso quando a mota parou eu não pude pôr o pé no chão. Caí desamparada ali mesmo em frente à garagem dos burros. Desmaiei. Só dei por mim um dia depois no Montepio. Estava com um traumatismo craniano e tinha estado em coma durante umas boas horas. Os meus colegas estavam todos em estado de choque. Faziam fila para poderem espreitar para dentro do quarto onde eu estava.

Todo o terceiro período do 6ºano, estive deitada, imóvel na cama, até o hematoma desaparecer completamente.

O Dr. Jales ia a minha casa quase todos os dias, nos primeiros tempos, espreitar para dentro dos meus olhos. Penso que era por ali que se via a evolução do desaparecimento do coágulo de sangue.

Depois passado talvez um mês comecei a poder levantar-me mas ainda e sempre em casa.

Os meus colegas iam ver-me quase todos os dias.

Parece impossível, mas tive mais oportunidades de conversar com todos, raparigas e até rapazes, depois do acidente do que em tempo normal de aulas.

A minha mãe, como via que eu ficava muito contente com estas visitas, esforçava-se imenso para agradar aos meus visitantes e por isso havia sempre lanche com ovos mexidos, fiambre, bolinho, etc. Aliás posso talvez hoje perceber que os meus pais e até os pais dos meus colegas mudaram um pouco o seu comportamento para connosco depois disto. Deve ter sido por verem que a gente, que afinal se portava tão bem, até podia morrer e... era injusto mesmo, não nos deixarem sair de casa nem encontrarmo-nos uns com os outros. Não sei. Estou a dizer isto hoje, não sei se os nossos pais sentiram isto ou não...

Estive em casa, não fui às aulas, mas como tinha muito boas notas nos dois primeiros períodos os professores em reunião de turma decidiram passar-me para o sétimo ano.

Assim comecei o sétimo ano com alguma matéria não dada, o que fez com que eu estudasse duas vezes mais do que antes para compensar. Isso fez com que tivesse tido sempre bons resultados e notas boas nos exames.

Fazer o sétimo ano era o passaporte para a Universidade. Era a saída de casa dos pais e o alcance de uma certa libertação... Libertação dos olhares de algumas “senhoras da Zaira” sempre postos em cima de nós, sempre prontos a criticarem se fazíamos isto ou aquilo, se falávamos com este ou com aquele, se vestíamos o que devia ser vestido num dado dia e numa dada circunstância, se as nossas saias estavam na altura certa da perna ou não. Libertação de uma mentalidade que nos impedia até de pensar de forma diferente. Se manifestássemos num sítio qualquer uma opinião diferente sobre um assunto dos que vinham ao de cima (havia assuntos que não se abordavam de forma nenhuma), éramos chamados à “realidade”, em casa pelos nossos pais, ou no colégio pelo Padre Albino ou por outro dos professores.

Não sabíamos como, mas aquilo que a gente dizia num sítio chegava depressa ao conhecimento dos nossos “superiores”.

Sobre a guerra ninguém falava, embora fosse um mal-estar de fundo. De vez em quando a gente percebia que um dos rapazes mais velhos tinha ido para o ultramar e aí todos ficavam preocupados e até mesmo as “senhoras da Zaira”, algumas das quais até tinham filhos rapazes, estavam preocupadas com isso.

Bem, por isso tudo, tínhamos que fazer o sétimo ano, o que afinal quase todos fizemos. Depois uns foram para Lisboa, outros para Coimbra, e outros ficaram nas Caldas. Estes foram os que não seguiram estudos. Empregaram-se nos bancos, ou em empresas e por aqui ficaram, já economicamente independentes, mas ainda vivendo em casa dos pais. As raparigas ficavam até casar. Antes disso, mesmo que fossem economicamente independentes não podiam montar a sua casa...

Do grupo que foi para Lisboa, uma meia dúzia encontrava-se por lá, às vezes às quartas-feiras à tarde. Depois fomo-nos separando, naturalmente, fazendo novas amizades com os novos colegas que nos estavam mais próximos.

Passado um ano já éramos muito menos nestes encontros e finalmente ficámos apenas três.

Dos outros ficaram as saudades e a emoção dos esporádicos mas intensos encontros nas Caldas, nas férias.

Nota final

Quis escrever sobre o tema em discussão e comecei por um acontecimento que marcou a minha vida, que foi o acidente de mota, aos 15 anos.

Quando terminei de escrever e voltei a ler o que tinha escrito verifiquei com algum espanto que não tinha referido nenhum ponto de encontro.

Será que nós, as raparigas, não tínhamos pontos de encontro no nosso dia a dia no colégio? Não sei, deixo esta pergunta no ar.

É claro que não me refiro aos dias de aniversário em que o ponto de encontro era na festa, em casa do aniversariante, nem aos dias de Carnaval. Estava a pensar mesmo na nossa rotina diária.

Desculpem. Eu fiz um esforço...

Maria Helena Arroz
9 de Abril de 2008

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João Jales :
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Não quero com os meus comentários enevoar um texto límpido como é o da Lena, mas não posso deixar de me queixar do enorme azar que tive na minha pergunta. Foi pensada cuidadosamente: escolhi 1965 porque a Lena estava no 6º Ano e, sendo uma excelente aluna, não havia nenhuma pressão com exames, Maio porque é um mês com bom tempo mas ainda com aulas, confirmei que o dia 15 era Sábado e, sendo o dia da cidade, podia até ter havido uma festa. Perfeito! Viessem os locais de encontro.
E ela estava a sair do Montepio. Numa maca…

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Como eu lhe escrevi quando recebi o depoimento:” É uma coincidência que retiraria qualquer verosimilhança a um livro ou filme, no entanto aconteceu aqui, na vida real, numa inocente troca de emails.” Nada mais posso acrescentar.
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É a terceira vez neste Blog que alguém diz isto, mais palavra menos palavra : "Não sabíamos como, mas aquilo que a gente dizia num sítio chegava depressa ao conhecimento dos nossos “superiores”. E eu acrescento "Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay" .
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O "datómetro" nem saiu do estojo. Não me foi deixada nenhuma ponta solta, desde a Velo Solex até ao Ultramar, da Zaira à libertação representada pela Universidade, as opções dos rapazes e raparigas, a ladeira e os “pombos correios”, tudo é descrito e explicado sem necessidade de notas ou comentários.

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A concepção do artigo com a minha pergunta no início e o texto como resposta foi ideia da autora, limitei-me a transcrever o que recebi.
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Com textos assim fico com o meu lugar de “comentador” em risco… Fica-me a satisfação de vos ter trazido um depoimento sincero e que é um bom retrato de época. Mas deixa uma pergunta no ar, repararam meninas? “Será que nós, as raparigas, não tínhamos pontos de encontro no nosso dia a dia no colégio?”
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20-04-2008

Miguel B M disse:


Afinal não sou má língua. Uma pessoa com a idoneidade da Lena também reconhece a existência de um "serviço de inteligência" no ERO. E não me queiram convencer que se tratava de meia dúzia de bufos que surgiam ocasionalmente. Tratava-se sem dúvida de um sistema bem montado cujos contornos de funcionamento me escapam (hierarquia, agentes de campo, etc). E pensar que tentaram vender a ideia de que o Albino protegia da PIDE uns alunos mais desgraçadinhos…

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