J.L. Reboleira Alexandre
Chão da Parada, algures na década de 60. 5 ex-alunos da Escola Industrial e Comercial, estando eu bem ao centro e,
à esquerda, o Eng. César Reboleira da Câmara Municipal da nossa cidade.
à esquerda, o Eng. César Reboleira da Câmara Municipal da nossa cidade.
Apesar de nunca ter sido aluno do ERO (a culpa foi do Sr Padre director na altura, quando eu aos 15 anos recusei mudar da escola para lá, por causa daquela história das missas a que os alunos tinham de assistir...seria mesmo assim?), vou tentar vasculhar nos cantos da memória os locais por onde andei nesses anos em que, para se ser feliz, bastavam vinte e cinco tostões nos bolsos das calças, uma toalha e uns calções de banho. Esta fase da minha vida terminou um pouco quando, aos 17 anos, passei a apanhar regularmente a automotora do Domingo à tarde para Lisboa, lá na estação do Bouro, no final da década de sessenta.
Não sei se por não viver nas Caldas, se por não ter sido aluno do ERO, a Zaira e o Central só mais tarde foram por mim frequentados, bem como o Casino ou os outros locais aqui mais mencionados noutros comentários. Era mais nas tabernas como a do Manel (António?) Henriques, ali frente à Praça de Touros, que eu comia uma sandes no fim das aulas e via um pouco de televisão, enquanto a bicicleta estava a guardar na loja do Sr. Castanheira. Luxo enorme, se pensarmos que no Chão da Parada não existia electricidade em 1973.
Garagens dos burros (não haverá outro nome para isto?), conheci algumas, mas mais durante a minha meninice, e aquela que minha mãe mais vezes utilizava para guardar o nosso meio de transporte mais usual, ficava ali na esquina da Rua Capitão Filipe de Sousa com a rua que desce para os Claras/Capristanos.
Aliás a Rua Capitão Filipe de Sousa, entre essa esquina e a garagem da BP (não sei se ainda é BP), tem para mim um significado especial. É que durante um Inverno, andava eu no 1º ano do Curso Geral do Comércio (ainda não tinha idade para conduzir motorizada), os meus pais chegaram a acordo com uma família que aí morava para que eu lá passasse os frios meses de Dezembro a Março. O apelido deles era Graça e tinham um filho mais velho que eu (andaria na altura no 5º ano do ERO), que se chamava Henrique, que me deu a série quase completa, encadernada, do Cavaleiro Andante (ainda hoje a guardo aqui em Montreal). Apesar de lá ter sido sempre tratado como um filho da casa, com direito a chá de limão à noite e tudo antes de ir dormir, e aí ter saboreado as minhas primeiras tangerinas (a família tinha criada), um dia disse lá em casa à minha mãe que preferia fazer a ida e volta do Chão da Parada para as Caldas de bicicleta, com frio de rachar, que ficar lá na cidade, pois não me sentia à vontade. No apartamento ao lado morava um outro ex-aluno do ERO cujo pai era oficial (major? no RI 5) de quem recebi igualmente imensos livros de BD. Sempre que volto às Caldas e passo frente àquele prédio lembro-me como se fosse hoje.
Não pensem no entanto que o pessoal da aldeia não se divertia. Em vez da Foz, para mim a praia de Salir do Porto era o local onde as férias grandes começavam em Junho e duravam até Outubro. Os jogos de futebol durante a maré baixa lá no rio de Salir duravam de manhã à noite, a barraquinha da Dona Amália (a mãe do Barrote que era nosso colega na Escola), no local onde agora estão as piscinas e o Abílio não pára de fazer obras, tinha uns bolos e umas laranjadas maravilhosos. O café do Alexandrino lá em Salir ou o Cortiço de Tornada, nos tempos do Sr Manel da Foz, com máquina de discos e tudo, para ouvir o « Have You Ever Seen the Rain» dos Creedence Clearwater Revival, dos irmãos Fogerty,
Não sei se por não viver nas Caldas, se por não ter sido aluno do ERO, a Zaira e o Central só mais tarde foram por mim frequentados, bem como o Casino ou os outros locais aqui mais mencionados noutros comentários. Era mais nas tabernas como a do Manel (António?) Henriques, ali frente à Praça de Touros, que eu comia uma sandes no fim das aulas e via um pouco de televisão, enquanto a bicicleta estava a guardar na loja do Sr. Castanheira. Luxo enorme, se pensarmos que no Chão da Parada não existia electricidade em 1973.
Garagens dos burros (não haverá outro nome para isto?), conheci algumas, mas mais durante a minha meninice, e aquela que minha mãe mais vezes utilizava para guardar o nosso meio de transporte mais usual, ficava ali na esquina da Rua Capitão Filipe de Sousa com a rua que desce para os Claras/Capristanos.
Aliás a Rua Capitão Filipe de Sousa, entre essa esquina e a garagem da BP (não sei se ainda é BP), tem para mim um significado especial. É que durante um Inverno, andava eu no 1º ano do Curso Geral do Comércio (ainda não tinha idade para conduzir motorizada), os meus pais chegaram a acordo com uma família que aí morava para que eu lá passasse os frios meses de Dezembro a Março. O apelido deles era Graça e tinham um filho mais velho que eu (andaria na altura no 5º ano do ERO), que se chamava Henrique, que me deu a série quase completa, encadernada, do Cavaleiro Andante (ainda hoje a guardo aqui em Montreal). Apesar de lá ter sido sempre tratado como um filho da casa, com direito a chá de limão à noite e tudo antes de ir dormir, e aí ter saboreado as minhas primeiras tangerinas (a família tinha criada), um dia disse lá em casa à minha mãe que preferia fazer a ida e volta do Chão da Parada para as Caldas de bicicleta, com frio de rachar, que ficar lá na cidade, pois não me sentia à vontade. No apartamento ao lado morava um outro ex-aluno do ERO cujo pai era oficial (major? no RI 5) de quem recebi igualmente imensos livros de BD. Sempre que volto às Caldas e passo frente àquele prédio lembro-me como se fosse hoje.
Não pensem no entanto que o pessoal da aldeia não se divertia. Em vez da Foz, para mim a praia de Salir do Porto era o local onde as férias grandes começavam em Junho e duravam até Outubro. Os jogos de futebol durante a maré baixa lá no rio de Salir duravam de manhã à noite, a barraquinha da Dona Amália (a mãe do Barrote que era nosso colega na Escola), no local onde agora estão as piscinas e o Abílio não pára de fazer obras, tinha uns bolos e umas laranjadas maravilhosos. O café do Alexandrino lá em Salir ou o Cortiço de Tornada, nos tempos do Sr Manel da Foz, com máquina de discos e tudo, para ouvir o « Have You Ever Seen the Rain» dos Creedence Clearwater Revival, dos irmãos Fogerty,
ou o «Lady Jane» dos Stones.
Pelas mesmas razões, o Pão de Ló de Alfeizerão. Todos estes locais ficam para sempre nos nossos arquivos.
Era ainda na praia que se namorava em português, mas também em francês com pronúncia belga. Aprendi nessa altura a dizer septente em vez de soixante-dix. Ainda hoje os meus amigos francófonos me perguntam se sou belga. Aliás foi nas areias da duna de Salir que encontrei aquela que me atura há quase trinta anos. Ela corrigiria de imediato para vinte e oito e meio, pois diz que eu tenho sempre a mania de me envelhecer.
«Et voilà», de forma sucinta, os locais da minha juventude.
José Luis Reboleira Alexandre
Era ainda na praia que se namorava em português, mas também em francês com pronúncia belga. Aprendi nessa altura a dizer septente em vez de soixante-dix. Ainda hoje os meus amigos francófonos me perguntam se sou belga. Aliás foi nas areias da duna de Salir que encontrei aquela que me atura há quase trinta anos. Ela corrigiria de imediato para vinte e oito e meio, pois diz que eu tenho sempre a mania de me envelhecer.
«Et voilà», de forma sucinta, os locais da minha juventude.
José Luis Reboleira Alexandre
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BREVES NOTAS E COMENTÁRIOS
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Não conheci o Zé Luis, três anos mais velho do que eu. Ele ajuda na datação numa segunda mensagem:
Nasci em 1951, fui aluno da escola entre 62 e 69 (o último ano como assistente - chumbo na primeira tentiva no exame de admissão ao ICL - recusa de ir para o ERO por causa das tais missas). Parti para Lisboa continuar os estudos no Instituto Comercial de Lisboa em 1969. Depois da tropa a partir de Outubro de 73, com 12 meses de Angola pelo meio, até Outubro de 75, parti para Montreal onde vivo desde 1976.
Já lhe expliquei que não havia qualquer obrigatoriedade de assistir à missa para os alunos do Colégio. Eu próprio fui apenas a duas ou três ao longo de nove anos, nunca por motivos religiosos nem por imposição de ninguém.
A caracterização que tem sido feita da Zaira e do Casino como locais "exclusivos" dos alunos do ERO é claramente abusiva e não corresponde à realidade. Eu frequentei muito os dois locais, com muitos colegas, mas posso assegurar que 2/3 da minha turma de 6º e 7º Ano não ia habitualmente à Zaira e 3/4 não ia, ou ia muito esporadicamente, ao Casino. E claro que a maioria os frequentadores desses locais não eram alunos do ERO. O Zé Luis não os frequentava simplesmente porque, morando fora das Caldas, não tinha ligações familiares aos frequentadores adultos desses locais. Essa, para mim, é a explicação, mas tenciono voltar a este tema.
A caracterização que tem sido feita da Zaira e do Casino como locais "exclusivos" dos alunos do ERO é claramente abusiva e não corresponde à realidade. Eu frequentei muito os dois locais, com muitos colegas, mas posso assegurar que 2/3 da minha turma de 6º e 7º Ano não ia habitualmente à Zaira e 3/4 não ia, ou ia muito esporadicamente, ao Casino. E claro que a maioria os frequentadores desses locais não eram alunos do ERO. O Zé Luis não os frequentava simplesmente porque, morando fora das Caldas, não tinha ligações familiares aos frequentadores adultos desses locais. Essa, para mim, é a explicação, mas tenciono voltar a este tema.
A tasca em frente à Praça de Touros era propriedade do António (e não Manuel) Henriques, se confiarmos na memória do Vítor Silva, um dos colegas da Escola que contribuiu para esta série sobre os locais de encontro. E há mais citações, foi um local relevante.
Sei que após o 25/4/74 a principal reivindicação das freguesias caldenses junto da comissão directiva da Câmara foi terem acesso à electricidade. Como habitante da zona urbana das Caldas talvez não me tenha apercebido, na altura, da enorme quantidade de pessoas do concelho que não dispunham de um bem tão essencial e do intransponível obstáculo que isso constituía para qualquer desenvolvimento das populações dele privadas. Nas Caldas havia electricidade, embora nem sempre… Lembro-me de se dizer que:
“Caldas da Rainha é uma cidade que seduz,
De dia não há água e de noite não há luz...”
Os dois alunos do ERO citados no texto são o Henrique Graça e o Nuno Mendes. Embora o nome do segundo não estivesse lá escrito, foi fácil descobrir quem era um filho de militar com a mania da BD.
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A maioria dos locais de encontro citados no texto são novidade, mas não a referência às célebres belgas de S. Martinho…
Conheci o Cortiço desde muito cedo mas não me lembro de lá existir uma Juke Box.
Conheci o Cortiço desde muito cedo mas não me lembro de lá existir uma Juke Box.
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Os nossos três anos de diferença não nos separam na música, conheço bem as duas canções citadas (e recordadas). Have You Ever Seen The Rain dos CCR foi incluída no LP “Pendulum” (1970) e Lady Jane, dos Stones, em “Aftermath” (1966); embora nunca assumido pelos autores, parece referir-se a Jane Seymour, uma das seis mulheres do Henrique VIII .
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23-04-2008
João Rodrigues Lobo
Nos locais de José Luis R. Alexandre é referida a ZAIRA como ponto de encontro de alunos do ERO.
Nas breves Notas e Comentários áquele depoimento é dito que não era a ZAIRA ponto de encontro.
Posso afirmar que em 1965 a Zaira era ponto de encontro da malta do 7º ano como aliás confirmam 3 fotografias que enviei e,reparem no convite para o Baile de Finalistas, que também enviei, a Marcação de Mesas é pelo telefone 22288 "ZAIRA" o que prova que "estávamos lá".
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23-04-2008
JJ disse:
Nem o Zé Luis refere a Zaira como ponto de encontro dos alunos do ERO (nem poderia, ele afirma que não ia lá), nem eu contradisse o que ele não escreveu.
Especulámos ambos porque é que ele não o teria feito e, das suas duas hipóteses, não ser aluno do Colégio ou habitar fora das Caldas, eu escolho a segunda, já que ser aluno do ERO não era condição para a frequentar.
A minha nota destinava-se a negar uma interpretação abusiva, que poderia decorrer de alguns textos anteriormente publicados e até da afirmação do autor, de que a Zaira e o Casino seriam locais “reservados” aos alunos do Ramalho Ortigão. Se não era verdade para a Zaira, era absurdo para o Casino.
João Rodrigues Lobo
Nos locais de José Luis R. Alexandre é referida a ZAIRA como ponto de encontro de alunos do ERO.
Nas breves Notas e Comentários áquele depoimento é dito que não era a ZAIRA ponto de encontro.
Posso afirmar que em 1965 a Zaira era ponto de encontro da malta do 7º ano como aliás confirmam 3 fotografias que enviei e,reparem no convite para o Baile de Finalistas, que também enviei, a Marcação de Mesas é pelo telefone 22288 "ZAIRA" o que prova que "estávamos lá".
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23-04-2008
JJ disse:
Nem o Zé Luis refere a Zaira como ponto de encontro dos alunos do ERO (nem poderia, ele afirma que não ia lá), nem eu contradisse o que ele não escreveu.
Especulámos ambos porque é que ele não o teria feito e, das suas duas hipóteses, não ser aluno do Colégio ou habitar fora das Caldas, eu escolho a segunda, já que ser aluno do ERO não era condição para a frequentar.
A minha nota destinava-se a negar uma interpretação abusiva, que poderia decorrer de alguns textos anteriormente publicados e até da afirmação do autor, de que a Zaira e o Casino seriam locais “reservados” aos alunos do Ramalho Ortigão. Se não era verdade para a Zaira, era absurdo para o Casino.
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25-04-2008
Isabel Cx disse:
De não menosprezar as garagens de burros (outro nome? estacionamento de jumentos?) da nossa cidade! Hoje pontos de referência, quase ao nível da "Rainha": A Lena A. caíu em frente duma, o Zequinha ia à sopa de pedra, a mãe do Reboleira guardava o meio de transporte e eu passava lá com a minha mãe!
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