O Fernando Santos não foi aluno do ERO nem da Escola, mas passou alguns bons tempos nas Caldas, onde fez muitos amigos e onde casou. Enviou-nos duas contribuições para os "Locais de Convívio da Juventude Caldense" , no caso dele referentes aos anos 50 . Aqui está a segunda.
OS BAILES DA FOZ
Por volta dos anos 56 ou 57 fiz parte de um grupo que costumava acampar no pinhal existente à entrada da Foz.
Além de mim faziam parte o Carlos Alberto, do cinema Ibéria, o Luzio, o Pinho Marques e mais uns quantos cujos nomes não me vem à memória. Cada um tinha a sua tenda e naquele Verão quase todos os Sábados montávamos as nossas bicicletas com o respectivo farnel e ali passávamos o fim de semana. Todos nós conhecíamos moças da Foz, com as quais convivíamos, e a partir de certa altura algumas, entre as quais se encontravam a Dulce, a Rosa, a Rute, a Gabriela e outras, decidiram organizar bailes em garagens particulares que pediam emprestadas aos respectivos proprietários.
Não sei qual a razão mas a verdade é que só convidavam rapazes das Caldas e os primeiros bailes até correram muito bem. Mas, a partir de certa altura, os rapazes da Foz não estavam a gostar nada da coisa e deram em apedrejar as portas das garagens onde se realizavam os bailes. Escusado será dizer que as moças começaram a ter dificuldade em arranjar locais para os bailaricos e, como tal, recorreram a uma sala situada nas traseiras duma taberna um pouco adiante do Café Caravela. Como de costume o encarregado do som era eu, que levava um enorme gravador de fita magnética alugado na loja do pai do Vasco de Oliveira com as músicas previamente gravadas. Logo na primeira noite, com a sala cheia de moças acompanhadas das respectivas mamãs, alguém começou a apedrejar o portão das traseiras. Ainda fui espreitar, mas não vi ninguém. Depois dirigi-me á taberna para tomar uma laranjada e notei que estava cheia de moços da terra que me foram dando alguns apertões. Fiquei assustado e, no meio de certa confusão, consegui regressar á sala. Porém, com grande espanto, constatei que tinha havido sururu e toda a gente tinha fugido pelas traseiras.
Completamente só e desorientado, pensei logo que ia levar uma carga de porrada. Peguei no gravador saí a correr pelas traseiras com o dito cujo ao ombro e, quando cheguei á rua, já os meus companheiros iam a correr em frente ao Caravela. Desatei a gritar para esperarem por mim e depois lá fomos todos cheios de medo até ao acampamento. Aqui chegados vimos as nossas tendas abertas, onde faltavam algumas coisas. Pensamos logo que nos tinham assaltado. O resto da noite foi passada em branco com medo de qualquer represália e, na manhã seguinte, constatámos que apenas nos faltavam os sacos da comida que encontrámos dispersos pelo campo, e concluímos que teria sido obra de cães esfomeados.
A partir daqui pensei que os bailes tinham acabado. Mas não! As moças da Foz gostavam da rapaziada das Caldas e eram persistentes. Na semana seguinte voltaram a convidar-nos para outro baile no mesmo local. Alguns mais corajosos foram, mas eu não. Porém, como era necessário levar o gravador, pedi a um colega de nome Viriato, que não pertencia ao grupo, para ir no meu lugar.
Na segunda feira o Viriato apareceu no trabalho com o nariz todo esfolado, contou-me que tinha havido porrada de criar bicho e, para dizer a verdade, já não me lembro do estado em que ficaram os meus companheiros do grupo.
O Verão estava a findar, continuei a ter uma boa relação com as moças da Foz, mas quanto aos bailaricos, para mim terminaram de vez.
Fernando Santos
Olhão, 16-3-2008
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COMENTÁRIOS
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24-04-2008
JJ disse:
Quando iniciámos esta série sempre pensei que os bailes de garagem constituissem uma parcela importante dos textos recebidos. Tal não aconteceu e este é, até à data, o único que lhes é completamente consagrado. Como receberemos textos até ao final do mês, talvez surja outro.
Não tenho pessoalmente grandes comentários, é um tempo que não é o meu (tinha 3 anos,acabado de chegar às Caldas) e a estória fala por si. Se algum dos intervenientes quiser, tem aqui um espaço de comentário para acrescentar e esclarecer.
Resta-me agradecer ao Fernando que, não sendo sequer aluno do ERO, teve duas colaborações muito interessantes.
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25.04-2008
São Caixinha disse:
Gosto muito de como o Fernando conta as estórias e das estórias que conta! Esta parece quase o "West Side Story" da Foz do Arelho!! Uma interessante contribuição para a manta de retalhos dos locais de encontro que assim se vai tornando a cada dia, mais variada e colorida!! São
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25-04-2008
Isabel Knaff disse:
Em relação ao artigo do Fernando Santos pergunto-me se as meninas da Foz tambem vinham aos bailes das Caldas ?
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26-04.2008
F Santos respondeu:
Que me conste, a resposta é não!
As meninas da Foz não podiam vir aos bailes nas Caldas porque naquele tempo ninguém tinha Pó-Pó. Viajava-se na camioneta ou bicicleta, e como de noite não havia carreiras, logicamente bailes em Caldas nada!
Não faltavam era por altura das Feiras do 15 de Maio e 15 de Agosto que se realizavam na antiga cerca do Borlão, juntando-se aos rapazes das Caldas para se divertirem nos carroceis e pistas de automóveis.
Das que conheci, não sei se alguma foi aluna do E.R.O. mas da Bordalo Pinheiro lembro-me de duas ou três que vinham de bicicleta todos os dias.
As meninas da Foz não podiam vir aos bailes nas Caldas porque naquele tempo ninguém tinha Pó-Pó. Viajava-se na camioneta ou bicicleta, e como de noite não havia carreiras, logicamente bailes em Caldas nada!
Não faltavam era por altura das Feiras do 15 de Maio e 15 de Agosto que se realizavam na antiga cerca do Borlão, juntando-se aos rapazes das Caldas para se divertirem nos carroceis e pistas de automóveis.
Das que conheci, não sei se alguma foi aluna do E.R.O. mas da Bordalo Pinheiro lembro-me de duas ou três que vinham de bicicleta todos os dias.
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