ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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Os Locais do Miguel B M

Miguel Bento Monteiro




Embora de um modo geral eu passasse por todos os locais referidos no Blog, apenas referirei os que frequentava assiduamente.

A Zaira era sem dúvida o local preferido da juventude caldense, a qualquer hora do dia e em qualquer altura do ano, a par do Casino no Verão. Era um café particularmente acolhedor, com uma localização privilegiada, em que se cruzavam várias gerações de caldenses, pais e filhos. Recordo-me de lá ir sempre aos sábados à noite, era de lá que, após uns momentos de convívio, se arrancava para outros destinos, o Ferro Velho, o Casino e Óbidos, por exemplo. No que diz respeito aos cafés, a Zaira era definitivamente a minha escolha.

Com o aparecimento do Camaroeiro surgiu outro espaço de convívio, embora com características totalmente diferente. Era uma cervejaria com uma sala de bilhar e snooker, com excelentes bifes e fatias douradas. As pessoas que o frequentavam não tinham muito a ver com as que iam à Zaira e sobressaía a inexplicável antipatia e arrogância do dono (Júlio) e dos empregados que eram certamente seleccionados de acordo com aquela característica. Lembro-me de estar sentado ao balcão e ser autenticamente “vigiado”, não fosse o caso de comer um ovo cozido e não pagar. E não me venham com tretas que já tinham sido intrujados anteriormente, pois temos o direito (mesmo quando somos jovens) de sermos considerados honestos, até prova em contrário. Tirando esta faceta desagradável, era um bom sítio.

Quanto às pastelarias, sem dúvida o Machado. Tinha (penso que ainda tem) os melhores bolos da terra, pelo menos os "triângulos de ovos "continuam a ser muito apreciados cá em casa pelos meus filhos, em particular pelo mais novo, que é incapaz de comer doces de qualquer espécie, abrindo no entanto uma honrosa excepção para os referidos bolos. Era perto do parque, o nosso habitat natural desde o início das férias da Páscoa até ao fim do Verão.

Em relação às tascas, a habitualmente frequentada era a Floresta. Começou por ser o ponto de encontro dos sextanistas e coincidiu com o início das saídas nocturnas nos dias de semana, mesmo durante as aulas. Como fechava cedo, às dez horas, jantava cedo e chegava igualmente cedo a casa, após renhidas partidas de "pimbolim", ainda aproveitando muitas vezes para estudar um pouco ou ficar a fazer exercícios de matemática do triste Palma Fernandes, enquanto ouvia as emissões roqueiras nocturnas. Em relação aos jogos de matrecos eu jogava com os bonecos da defesa e fazia pares com atacantes talentosos como o Semilha, Pedro Nobre ou Flores. É claro que muitas das vezes esses atacantes jogavam contra mim, o que era sempre um problema. Mas o defesa mais perigoso (onde é que eu já escrevi isto?) era precisamente o bloguista JJ que enviava tremendos mísseis contra as tabelas a fim de iludir os adversários e forçar o factor sorte. Claro que os jogos eram sempre "ao perdes pagas". Enquanto nós jogávamos disputavam-se, com igual animação, partidas de laranjinha. Outro tipo de jogadores, que emborcavam copos de tinto no intervalo de cada jogada, até ao final da noite.

Outro local em que eu normalmente ia ao sábado à tarde era a Tália. Ficava perto da fábrica dos bolos e da padaria Teixeira, esta visitada por causa do pão quente.

Jogava muitas vezes king, e até lerpa, mas o forte era mesmo o poker sintético. Muitas vezes, depois do casino fechar, as partidas eram transferidas para minha casa quando os meus pais não estavam lá.

Frequentei a ginástica nos Bombeiros, durante os anos lectivos entre 1966 e 1969. As férias de Verão eram passadas nos campos de ténis. Foi lá que aprendi a jogar e fiquei com o “vício”, que ainda hoje me persegue e atormenta.

Mas recordo sobretudo as grandes futeboladas na Foz, no Verão, normalmente de manhã e na Mata, durante o tempo de aulas.

O futebol era também ele um “vício”, o qual chegou a ser saciado em plenas aulas de Educação Física, quando o prof Silva Bastos nos mandava fazer corta-mato na mata e a turma optava, e na minha opinião bem, por correr atrás da bola em vez de correr atrás de nada.

Também me lembro de um tremendo remate enviado pelo Malinha contra a porta de fundo do ginásio, no final de um jogo de vólei em que rapaziada optou, justamente e mais uma vez, por dar uns toques de futebol, usando a mesma bola. Isto para o Bastos era um sacrilégio, ainda por cima com ele a observar, embora ninguém o soubesse.

Definitivamente o melhor foram sempre as futeboladas que jogávamos a toda a hora, antes e depois das aulas, apesar de a minha mãe me proibir de o fazer, exigindo que eu viesse para casa imediatamene após o seu término. Uma vez cheguei a casa tão sujo que a senhora me obrigou a despir à porta de casa e apenas entrei em cuecas!

Deixo para o fim o Casino, que foi sem dúvida o local mais marcante para mim embora, infelizmente, só o frequentasse no Verão. Lá passei talvez os melhores momentos da minha juventude, que me marcaram indelevelmente. Lembro-me dos bailes, do convívio, dos jogos de cartas e de figuras carismáticas dessa altura. O Dr. Calheiros Viegas, de boa memória, com quem aprendi o "killer instinct" que um jogador de ténis deve ter. O excelente José Augusto Silva, que desligava a electricidade que alimentava as bandas quando estas exageravam nos decibéis: "isto é que é calma " dizia Muller, o baterista de uma das bandas a quem ele cortou o som por este ser considerado atroador por meia dúzia de mamãs e papás com ouvidos mais sensíveis; que não pagou ao Paulo de Carvalho pois este não cumpriu o contrato de actuação em termos de horário ( "o Elton John também só cantou uma hora em Vilar de Mouros " " mas tu não és o Elton John …") e que se mascarava de rocker no Carnaval.

Teria ainda que falar do meu grande amigo Toni Vieira Pereira, das sortidas para Lisboa durante os bailes ou as idas ao jogo do Faraó. Também teria que falar dos jogos de poker e das suas continuações na rua Andrade em Lisboa.

Os bailes do casino eram espectaculares e muitas vezes abrilhantados por verdadeiras cenas de pancadaria dignas de westerns de série B e normalmente envolvendo os betinhos de S.Martinho ou os forcados de Santarém, esses belos exemplos de “homens de coragem”, especialmente quando em grupo e bem bebidos. As cenas de pancadaria eram mais frequentes nas casas de banho mas chegaram a ocorrer em pleno Salão de Baile. Enfim o casino dava para escrever um livro e seria interessante que o blog desenvolvesse este tema específico.

Os bailes de passagem de ano eram muito animados, ainda me lembro de determinada mamã empoleirada em cima de uma mesa, com uma lanterna acesa na mão, procurando com um foco a menina sua filha quando soaram as doze badaladas e as as luzes, como habitualmente, foram desligadas. Como se fosse a ocasião própria para ser perdida a inocência… Eu, apesar de procurar durante anos a fio, nunca encontrei nenhum sapato de cristal perdido.

Mas o mais importante era a música, a dança, os corpos, a transpiração e, especialmente, o convívio. Também os copos, para quem bebia: uma noite o Tó Zé Hipólito despachou sozinho, e num curto espaço de tempo, uma garrafa de Johnie Walker Red Label (Juanito Caminante como dizem nuestros hermanos) mas conseguiu aguentar-se à bronca apesar de, em determinada altura, se ter fixado excessivamente, e quase mergulhado, no decote da esposa de um alto representante do poder local! No fim, tudo se compôs…

Houve grupos apenas sofríveis, mas outros excelentes. Recordo um inesquecível concerto realizado pelos Objectivo e que proporcionou ao Zé da Cadela um vertiginoso show de bateria.

Houve a morte do Burguete, vocalista dos Xaranga Beat, e de toda a família com quem viajava (Outubro de 1970). E o acidente de carro que deixou tetraplégico o baixo da mesma, aparentemente amaldiçoada, banda.

Houve o JJ que, já entornado, chamou "filha do pecado" a uma colega, facto que a ofendeu sobremaneira…mas descansa, eu abstenho-me de recordar as "antigas namoradas e outras horríveis recordações"…
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MIGUEL B M

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