A. J. F. Lopes
Aqui vão algumas das recordações dos meus tempos de aluno no E. R. O. , seguindo mais ou menos o vosso pedido.
Depois foi a ida para Lisboa e o corte involuntário com a vida nas Caldas. Não esquecer que as comunicações não eram tão fáceis como agora: o Comboio levava 3 horas e o autocarro nem pensar.
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Pela parte que me toca estamos a falar talvez dos anos 40 a 50 e poucos. Mais propriamente a partir de 1944. Claro que exprimo a minha opinião muito pessoal, ou seja a minha interpretação actual das recordações de uma realidade passada há já muitos anos.
Eu diria que os pontos de encontro para os “teens” da época tinham características sazonais. Isto é, no Verão era o dia, ou parte dele, na Foz do Arelho, onde pontificava o José Félix, e a noite no Parque/Casino. Mas mais no Parque que, nessa época, era uma espécie de sala de visitas das Caldas onde todos se encontravam, ou sentados pelos bancos que ladeavam (então como hoje) a rua principal, ou na velha esplanada, ou ainda fazendo piscinas rua abaixo rua acima, enquanto a Banda se fazia ouvir no coreto. Pena que tudo isso se perdeu e o Parque se desertificou em termos humanos (sobretudo nas noites de Verão) talvez acompanhando, solidário, a ruína do Casino.
No Inverno era um pouco mais complicado, havia algum desencontro das pessoas (claro que é a minha opinião pessoal) e, aí sim, os cafés eram uma espécie de tertúlias, cada um com a sua fauna especial, de tal modo que querendo encontrar A, B ou C teríamos que ir a determinado café. Mas o verdadeiro ponto de encontro do Inverno, para mim, era mesmo o cinema, fosse o Pinheiro Chagas ou o Salão Ibéria, com a combinação prévia à saída das aulas.
Claro que também havia uns jogos de bilhar (Casino e Clube de Inverno), o ténis de mesa e os inevitáveis matraquilhos. O “snooker” do Central não me lembro de ser muito popular entre a rapaziada. As Ginjinhas & Cª eram pontos de passagem e não pontos de encontro, Ferro Velho & Cª apareceram mais tarde.
Nas papelarias o Silva Santos era mais um lugar de pesquisa onde, com alguma dificuldade, se tentava encontrar um livro (não esquecer que nesses tempos a leitura era um hábito e era importante ter lido o livro X). A Tália sim, seria um ponto de encontro, ou o embrião de um ponto de encontro. Os outros vieram mais tarde.
Havia ainda a Biblioteca do Sindicato na Rua do Jardim (Alexandre Herculano), onde se encontravam, além do “PING PONG”, alguns dos livros cuja leitura era na época fortemente desaconselhada e, talvez por isso, muito procurados.
Os bailes eram inevitavelmente no Casino e Lisbonense, muitas vezes em simultâneo. Só no Carnaval, com os grupos de máscaras, se corriam os Bailes todos das Caldas, e não só, além dos inevitáveis assaltos “surpresa” que toda a gente sabia quando e onde iam acontecer.
E com isto tudo e os jogos de futebol rapa canelas no Casal Estremenho e no Campo da Mata, umas sessões de “KING” nas nossas casas, etc., ainda se tentava ter tempo para estudar alguma coisa.
A qualidade das bifanas e das imperiais é difícil de lembrar. Aliás a cerveja não era então tão popular como agora. Os pregos eram normalmente (no Verão) no Lusitano ou na Zaira, era mais perto do Parque, normalmente acompanhados por vinho branco bebido em chávenas de chá para parecer mais conveniente. No Inverno havia umas visitas ao Cazeta, na estrada para Tornada. A casa ainda lá está mas desactivada há longo tempo.
Um abraço
A. J. F. Lopes
2008-03-16
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